segunda-feira, 21 de março de 2016

Final - Capítulo 9

Capítulo IX - Final

- Como fui eu? Do que você tá falando?
Eu não entendia mais nada.
- Foi você que me espancou! Tem sorte de eu ter muito dó de você e não te denunciar! - gritou Gabriela.
- Eu não tô entendedo, Gabriela, do que você Ta falando? - gritei também.
- Dá pena de você, não aceitar a realidade. Agora dá pra entender porque ela se suicidou! Sai daqui! - Gritou me empurrando pra fora - Some da minha casa, some!
- Pera aí, Gabi, do que você tá falando? Cadê minha mãe? - falei assustado.
- SAAI!!!! - gritou com toda força que podia.
- Acho que a louca aqui é você! - gritei saindo.
- Não volta mais aqui, seu doente! - gritou Gabriela do portão enquanto eu entrava em meu carro.

2

Na estrada eu tentava entender tudo que Gabriela tinha dito. Tentava ligar pra Cecília e só dava ocupado, o que estava acontecendo? Por que essa angústia repentina em meu peito?
Nada estava certo.

3

Cheguei em casa e continuava a ligar para Cecília e só dava caixa postal, estava preocupado. Será que Cecília era casada e o marido dela bateu em minha irmã? Será que é por isso que Cecília não atende? Será que ela tinha se suicidado, como minha irmã tinha dito? O que estava acontecendo? Horas atrás eu estava feliz, o que tinha acontecido a mim? Acabei me embebedando e dormindo no sofá.

4

Acordei dez horas da noite com o toque do celular, corri pensando que era Cecília. Atendi.
- Alô?
- Célio? - falou uma voz masculina.
- Sim?
- Preciso conversar com você, agora.
- Quem é? É sobre Cecília? Você conhece ela? Quem é?
- Relaxa. Sim, é sobre Cecília.
- Você é marido dela?
- Não. Só venha me encontrar, quero falar com você.
- Onde?
- Bairro Santa Cruz, Rua.... Vai anotar?
- Sim, espera - peguei uma caneta e escrevi o endereço em meu braço - Bairro Santa Cruz...
- Bairro Santa Cruz, Rua Falvete, Ed. Silvermann, apartamento 34.
-... Ok, quando é pra eu ir?
- Agora.
- Agora?
- Agora, Célio, venha.
Desliguei e logo Cecília me ligou.
- Cecília?
- Não vai, Célio, não vai! - falou Cecília chorando.
- Por quê?
- Você vai se machucar. Eu não quero isso, por favor, não vai!
- Devia pensar nisso antes.
Desliguei. Não fazia ideia do que dizia com "devia pensar nisso antes", não sabia o que ela fez, quem era aquele homem do telefonema, nem quem bateu em minha irmã. Tudo era confuso.
Peguei meu casaco, desci para a garagem, peguei o carro e fui ao encontro.

5

Quando cheguei me assustei. Era o mesmo prédio azul, que levei Cecília da primeira vez. Na portaria toquei o interfone, ap 34.
- Pronto.
- É o Célio, tô aqui em baixo.
A porta se destrancou.
- Abriu?
- Sim.
- Suba.
Cecília ficava me ligando loucamente. Desliguei o celular. Fui até o apartamento e toquei a campanhia. Um homem com a aparência de uns 60 anos, cabelos grisalhos e grandes óculos, abre a porta.
- Entre, Célio.
- Você é o pai da Cecília?
Ele riu.
- Não, senta ali no sofá.
Me sentei e ele sentou na poltrona em minha frente.
- Lembra de mim? - perguntou o homem sorridente.
- Não, não lembro.
- Tivemos essa mesma conversa a 8 meses.
- É? Como assim? - Franziei as sobrancelhas.
- É difícil falar, porque vai te chocar.
Ele se levantou e pegou um jornal sobre uma estante e mostrou para mim. Uma foto de um acidente com a manchete "TRAGÉDIA EM FAMÍLIA".
- O que tem isso? - falei balançando a cabeça.
Ele virou o jornal pra si e se sentou.
- "O professor da Universidade Federal do Ceará, colide seu carro na BR-374, o que resultou na morte de sua esposa Cecília, de 34 anos e de seus dois filhos, Penélope de 15 e, Rodrigo de 14. Milagrosamente o professor Célio A. Natzsway saiu do acidente ileso."
Ele colocou o pedaço de jornal sobre as pernas, tirou os óculos e me encarou.
- Isso é uma piada, né? - perguntei com um sorriso no rosto.
- Eu bem que queria, Célio, eu bem que queria.
- Isso não é verdade. Eu nunca fui casado.
Ele se levantou, pegou na estante uma foto e me mostrou. Era eu juntamente com Cecília, com uma aparência mais envelhecida, Penélope e Rodrigo.
- Não tem graça isso - falei alto - Esses dois são meus alunos! E conheço Cecília a nem duas semanas.
- Alunos do terceiro D, que te adoram. Cecília que você conheceu na sala dos professores, que se apaixonou... Eu já conheço essa história.
- NÃO, PARA, PARA COM ISSO! - falei com as mãos sobre meu rosto.
Ele se agachou sobre mim e disse:
- Você criou essa história, Célio, pra não se culpar de ter sido responsável pela morte de sua mulher e seus filhos e, reviver a lembrança de Cecília, Rodrigo e Penélope, faz você não se culpar da fatalidade que aconteceu, mas você não tem culpa, Célio, não foi culpa sua. A dona Helena me ligou e disse que você tinha voltado a agir estranho, como da última vez que isso aconteceu, me comentou que você estava feliz e se vestindo melhor e eu quis deixar você em sua paranóia, mas foi um erro... Eu sei que o que você fez a sua irmã, foi minha culpa!
- O que? Você conhece minha irmã?
- É ela que cuida de você, ela ama você, por isso não te contou a verdade e quando contou, você a destruiu...
- N... Não tô entendedo, cara só pra acabar com seu teatro, minha mãe conheceu Cecília.
- Sim, na sua paranóia, sua mãe ainda está viva.
- Mas ela tá!
- Não. Ela se suicidou a 25 anos, tudo que você vê é uma projeção de como ela estaria aos 58.
Comecei a rir.
- Chega dessas mentiras.
- Se concentre, Célio! Aceite a verdade! Você espancou sua irmã depois de ela dizer que sua mãe e Cecília morreram! E tudo que você queria era que aquilo não fosse verdade e acabou espancando ela.
- Não, isso é mentira!
- Pense Célio! Ache uma falha, seu sub-consciente deve ter te dado alertas, algo incomum aconteceu, pense!

6

E eu vi tudo.
Não entrou ninguém na sala dos professores naquela quarta-feira, mirava o nada. Quando trouxe Cecília até aqui, era um recado do meu sub-consciente me avisando que aquilo não era real. O garçom que não entendia o porquê de duas taças, o domingo na praia completamente sozinho. O porquê Gabriela me tratava daquele modo quando eu ligava ou falava com ela sobre minha mãe, o terceiro D, que nunca existiu, por isso Helena me perguntava se eu estava bem; Eu falava sozinho na sala. Todos queriam me ajudar e eu me tranquei na minha ilusão. Me lembrei, de quando realmente conheci Cecília, ela era atriz e a conheci assistindo a primeira peça que Gabriela participou. Ela trabalhava no sindicato dos artistas, por isso Marina perguntou se eu ainda estava com a moça do sindicato e, antes de eu pensar numa resposta, Cecília me ligou. Lembrei da vida que tive, de Penélope e de Rodrigo. Me lembrei de meu carro colidindo na serra e capotando, de quando vi minha mãe morta no banheiro. E o pior, vi que toda felicidade que tive nessa semana era uma mentira, que a paixão era uma mentira, pra esconder a podridão que minha vida se tornou.
Comecei a chorar sem parar.
- Célio, eu juro que queria deixar você viver na sua ilusão, mas - disse o homem, que lembrei ser meu doutor, pegando em meu ombro - Você ia acabar destruindo sua realidade.
- Meu Deus, o que eu fiz com a Gabriela! - tornei a chorar com as mãos em meu rosto.
- Não se culpe, Célio! A culpa não é sua! Ela queria te ajudar e eu também! Por isso deixamos você viver nessa ilusão, mas você concorda que é um erro, não?
- Sim.
- Então me diga - tornou a se debruçar sobre mim - O que é real?
- O que é real - funguei e olhei nos olhos do doutor - É que minha mãe se suicidou e minha família morreu em um acidente.
- O que foi essa semana pra você?
- Uma mentira.
- Eu preciso ter certeza que isso não se repetirá.
- Você terá. Você ainda fuma, doutor?
- Sim - pôs a mão no bolso e tirou o maço - quer?
- Por favor.
Me entregou um cigarro e acendeu para mim.
- Vou até a varanda - falei.
- Célio...
- Só quero um ar. Se eu quisesse me matar, eu teria feito a 4 anos.
- Ok.
Me levantei e fui até a varanda, tragando o cigarro e olhando para rua. Pensava e pensava, tudo que eu queria era pular. Então me conti em não mais pensar.
- Célio...
Olhei para o lado e era Cecília.
- Saia daqui, você não é real.
- Eu pedi pra você não vir, eu disse que você ia se machucar.
Bufei.
- Nada foi real, toda a felicidade, o amor...
- Foi real, Célio - Cecília olhou em meus olhos - foi real. Não só a 4 anos, como nessa semana também. Foi real. As pessoas amam, as pessoas são felizes e no fim descobrem que tudo era uma mentira.
Gargalhei.
- É bem diferente.
- Não é, Célio, não quero mais te machucar! Você precisa amar de novo. Tem uma moça, que realmente tem orgulho de você, que realmente gosta de você...
- Quem?
- Marina. E se eu estou dizendo é porque você sabe disso, lá no fundo. Já que eu sou uma projeção sua. Eu não quero voltar e você precisa ser feliz de verdade. Você é jovem e ainda pode. Vá atrás de Marina! Não tenha medo. E se você for feliz com ela e no fim descobrir que é uma mentira, ao menos foi algo de verdade. Pela sua irmã, por você, por mim, pelos nossos filhos... - Ela sorriu, como a Cecília que fui casado sorria. Foda-se a psicologia mas era ela ali. Eu sei disso.
- Obrigado, Cecília. - Uma lágrima escorrera em meus olhos.
- Eu sempre te amarei. - Disse Cecília, com um sorriso nos lábios, enquanto desaparecia no ar.
Peguei meu celular, pensei muito e enfim, liguei para Marina.
- Alô? Marina?
- Oi, Célio! Você me ligando, que milagre.
- Pois é... Então quer sair amanhã?
- Claro!

**
Chegamos ao fim. Uffa! 
Espero que você tenha curtido o final.
É isso, até a próxima!
INSÔNIOS'

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